A participação dá-se por meio de corpos intermediários que podem desempenhar nas sociedades democráticas a mesma função da aristocracia, preservar a liberdade. Nada mais longe do pai da democracia totalitária, grande teórico da solidão e insignificância do indivíduo diante do toto-poder da entidade coletiva. Tocqueville demonstrou racionalmente que a liberdade é por essência aristocrática e que uma das maneiras de transformá-la no grande legado da classe social a que pertencia a humanidade poderia ser por intermédio de associações voluntárias entre os cidadãos tais como as que vira na América e que poderiam funcionar como um sucedâneo da nobreza capaz de servir de anteparo à centralização estatal concentradora de poderes em mãos da burocracia.
Também a referência a Benjamin Constant é no mínimo ligeira. Certamente, o autor dos "Princípios de Política", a quem Tocqueville deve muito, era mais crítico em relação à sua época e ao mundo burguês do que é dito por Jasmin, que parece ter restringido suas pesquisas a seu texto mais conhecido, apenas uma conferência de circunstância.
Mas esses são apenas reparos marginais a esse excelente livro que, alem de ser obra para especialistas, é também uma introdução à obra tocquevilliana, cada vez mais atual, com a especial vantagem de ser uma introdução feita de uma perspectiva brasileira. Concordo com o prefaciador, L. W. Vianna, que chama a atenção para a relação entre maturidade intelectual de um país e sua aptidão em se apropriar da tradição clássica de um ramo do saber, embora não fique claro por que especialmente no caso dos países de capitalismo retardatário, a menos que a intenção seja justamente marcar a diferença com a América do Norte e sua particular tendência à pasteurização do mundo e do pensamento. M. Jasmin demonstra saber muito bem que o magnífico gado da região de Valognes, distrito onde Tocqueville se elegeu tantas vezes deputado e onde tinhs seucastelo, é bom para fazes escalopes normandos e não insossos hambúrgueres com milk shake.