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Alcino Leite Neto - 72 - Março de 2001
A TV na estante
Foto do(a) autor(a) Alcino Leite Neto

A TV na estante

A Televisão Levada a Sério
Arlindo Machado
Ed. Senac (Tel. 0/xx/11/284-7957)
248 págs., R$ 24,00

O professor e pesquisador Arlindo Machado vasculhou a história da TV mundial e fez um interessante levantamento do que considera os melhores programas já realizados. Reuniu cerca de 200 trabalhos, em diferentes listagens, que são intercaladas por ensaios sobre o telejornalismo, a transmissão ao vivo e o videoclipe, entre outros temas. Arlindo Machado é um leitor erudito dos momentos sofisticados da televisão (que afinal existem, como ele se deu ao trabalho de demonstrar).
Houvesse apenas nos alertado sobre as boas produções existentes, este já seria um livro relevante. Mas o pesquisador pretende também defender um modelo de crítica de televisão, baseada na leitura da singularidade das atrações. É menos feliz. Seu argumento de que é preciso valorizar os programas em sua particularidade artística enfrenta, ao menos no caso brasileiro, o obstáculo concreto de eles não serem realizados com independência criativa nem produzidos de fato para se destacar do fluxo costumeiro da produção televisiva, que iguala a todos por critérios os mais mesquinhos.
Na ótica dos produtores e do oligopólio de exibição, os programas serão tanto mais eficientes quanto melhor reproduzirem suas fórmulas consagradas e sedimentarem hábitos e consensos na audiência. As raríssimas exceções existentes, como sempre, confirmam a regra. E a regra aqui é a mercantilização maciça do entretenimento, a edulcoração dos conflitos sociais e a espetacularização contínua da realidade. Um crítico dedicado apenas às boas coisas da TV brasileira teria que escrever naquele jornal imaginado por Borges, que só sairia a cada cem anos.


A TV aos 50 - Criticando a Televisão Brasileira no seu Cinquentenário 
Eugênio Bucci (org.). 
Editora Fundação Perseu Abramo (Tel. 0/ xx/11/5571-4299)
208 págs., R$ 24,00

A dimensão pública da TV dá a tônica dos artigos e ensaios reunidos nesta coletânea. Há na maioria dos textos um sentimento de urgência e de responsabilidade diante do fato de a televisão no Brasil ser, antes de tudo, uma realidade social e política. Isso significa debater questões relacionadas à democratização das mídias e da informação (como no ensaio esclarecedor de Fábio Konder Comparato) ou investigar o modo como o debate político pode ser domesticado por uma telenovela (na fecunda pesquisa de Esther Hamburger). É preciso destacar ainda o interessante artigo de Inimá Simões sobre a censura da TV durante os anos do regime militar e a reflexão provocadora de Maria Rita Kehl a respeito da produção imaginária da violência.



Pais da TV
Gonçalo Júnior 
Conrad Livros (Tel. 0/xx/11/279-9355) 
400 págs., R$ 45,00

O título infeliz deste livro pode dar margem a enganos. "Pais da TV", reunião de 16 entrevistas feitas pelo jornalista Gonçalo Júnior, não traz apenas depoimentos de pioneiros da televisão brasileira (como Dias Gomes, Boni, Armando Nogueira, Walter Avancini, dentre outros), mas também de personalidades mais jovens, como os diretores Wolf Maia e Guel Arraes. As entrevistas são quase todas elas interessantes, mas têm desenvolvimento irregular e perdem muitas vezes a precisão e a incisividade. Feitas originalmente para o jornal "Gazeta Mercantil", ao reeditá-las agora, na íntegra, Gonçalo Júnior deveria ter sofisticado a sua empreitada, refazendo partes do trabalho, repercutindo os depoimentos uns nos outros e tentando imbuir-se de um propósito investigativo mais intenso e organizado.


Era uma Vez... A Televisão
João Lorêdo 
Ed. Alegro (Tel. 0/xx/11/3845-8555) 
268 págs., R$ 28,90

O diretor, produtor e ator João Lorêdo não está destinado a ocupar o panteão central da TV brasileira. Apesar disso, tem uma longa história para narrar a respeito de seus quase 50 anos dedicados ao meio, muitos deles realizando programas humorísticos, telejornalísticos e shows de auditório. É o que ele faz neste livro, menos na forma de memórias que de reminiscências soltas e desorganizadas, precariamente escritas, sem nenhuma preocupação com a hierarquia dos temas nem com a sua progressão. Não se vê no volume a mão de nenhum editor a controlar, tolher ou aprimorar os originais. Ainda assim, trata-se de obra de importância documental, repleta de anedotas saborosas, detalhes que outros esqueceram, reconstituições de momentos extraordinários da televisão e com uma curiosíssima reunião de fotos, a maioria delas do arquivo pessoal do autor.

ALCINO LEITE NETO

Alcino Leite Neto é jornalista.
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